quarta-feira, 5 de maio de 2010



Eu não detestei o comercial da Brahma. Ao contrário da maioria das pessoas, e eu acho que o Tostão falou a respeito. Que não é uma guerra, é um jogo. Que não são guerreiros, são atletas. E que esse belicismo é todo ruim, ainda mais que temos torcidas organizadas tão idiotas etc. Mas eu não detestei e não acho ruim terem feito essa metáfora. Eu acho pobre e óbvia? Acho. Mas não sou contra ela. Eu me lembro de Giorgio Armani, que fez o uniforme da seleção italiana na Copa passada dizendo algo do tipo "pela primeira vez vesti heróis". E eu acho que são metáforas muito presentes. Aquela da guerra ou essa do Olimpo. E existe também uma espécie de mito a respeito do esporte. Que ele teria vindo pra tomar o lugar da guerra na disputa entre os povos. E então eu posso ver e tocar essa imagem aí. Do jogador como um guerreiro. Eu só acho pobre. Porque é óbvia, a metáfora. Mas tem um lado meio legal de se pensar. Porque a metáfora brasileira por excelência é o futebol. Se a gente fosse pra guerra, o noticiário diria que batemos na trave e coisas assim. Sempre foi isso. E, agora, até mais. Nunca na história desse país o futebol foi tão usado para explicar coisas "sérias" como política e economia. E daí quando temos que simbolizar futebol, ficamos esvaziados. Porque não podemos usá-lo da forma que estamos acostumados. Como símbolo. A outra propaganda brasileira*, minha mãe adorou. Aquela de jogadores de vários times se olhando feio no vestiário e aí todo mundo vira canarinho etc. Ela adorou. Eu gostei também. Mas, né? Copa do MUNDO. E me fazem uma coisa tão bairrista e tal. Aí eu vejo um RT dela hoje. E abro o comercial. Veja que os argentinos fizeram aquilo na Copa passada. E tem aquele da Coca-Cola que eu amo também. E então eu já esperei coisa boa. Mas nem de longe imaginei que eu fosse ficar tão uau. É tudo tão perfeito. A gente falando deles e eles falando da gente. E a frase recorrente que hoje parece explicar tudo "é cultural". A frase que tenta dar conta do imaginário e do simbólico. Os argentinos conhecem tão bem o lugar que o futebol tem pra eles. Eles sempre o mantém ali, na zona do sagrado. Evitam profanar. É cultural. Nós, não. Nós teimamos em profanar e rimos da sacralização. Choramos escondidos. O vascaíno querendo se jogar lá de cima, em São Januário, assim que acabou o jogo e o Vasco caiu. E eu comecei a rir. E os locutores estavam preocupados. Não é de rir. Não é de se preocupar. O Vasco estava rebaixado. O que mais poderia ser feito? Mas a gente debocha um pouco, sempre. É cultural. Então sempre acabamos fazendo essa comparação barata entre o samba e o tango. E que fazemos samba de tudo. E que eles fazem tango. Sei que eu fico imensamente comovida com os tangos deles. Não sei se eles acham graça dos nossos sambas.

*Não achei ainda, peraí.

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